26 de julho a 23 de agosto de 2025
Entre Pares
Francisco Badilla e Sónia Teles e Silva
Inauguração: 26 de julho – 16h00
Salas 2 e 3
Francisco Badilla e Sónia Teles e Silva apresentam Entre Pares – um diálogo intimista que marca a relação entre território e identidade. Partindo de experiências diversas, a exposição projeta uma espécie de jornada entre fábula e paisagem.
Interagindo por entre técnicas e entendimentos que se completam, os artistas traçam o retrato dos espaços que ocupam, em que convergem, envolvendo-nos nas suas vivências do quotidiano.
Entre Pares apela à observação daquilo que nos rodeia.
O Meu Portugal Interior
O imaginário surge como uma visão inconsciente. Aparecem rostos, personagens e paisagens que reconheço e acolho como meus. São imagens de um Portugal com história, carregado de nostalgia e habitado por lendas.
Vejo esta terra como o último limite do Oeste europeu, marcada por tradições e por uma identidade profunda. Desenho rostos e lugares antigos que se cruzam com elementos contemporâneos, num tempo que parece suspenso — como se certas coisas não mudassem, permanecessem.
Há também uma certa incerteza, como se a realidade não fosse fixa: um espaço imprevisível, onde tudo pode transformar-se. Não há uma verdade absoluta.
Talvez este sentimento nasça das terras do Norte, feito de resiliência e força. A minha visão expressa-se através do óleo e do carvão, em composições onde as figuras interagem e a paisagem dialoga com a modernidade.
Este tem sido o meu caminho desde que cheguei, há seis anos. Um percurso artístico e íntimo, que continuo a percorrer e a aprofundar com cada obra.
Francisco Badilla, julho 2025
Um Porto representado
O Porto como um pretexto para construir imagens com que sonho. Com o desenho enceno realidades únicas e irrepetíveis. Construo uma narrativa para além da cidade de granito, das ruas e ruelas, do casario.
Num Porto de jardins, descubro a forma das árvores, das raízes e dos troncos, desenho plátanos, camélias, araucárias, magnólias, palmeiras, metrosíderos e a Ginkgo biloba. Desenho as estações do ano com as cores das folhas, ora verdes, ora douradas, ora castanhas e vermelhas, às vezes despidas, com os seus longos ramos em linhas que se estendem bem alto, em pontas que se desvanecem no céu.
Casas e monumentos insinuam-se entre as árvores e o bronze das esculturas, esquecidas, funde-se com o verde dos jardins, ganham a patine da cor das folhas. Ouço a música no coreto.
Difíceis de desenhar, de tão irrequietos, são os melros pretos de bico amarelo enquanto os gatos se deleitam ao sol.
Passeio, à beira-mar, desenho as palmeiras e um céu pintado de azul, tão azul como o mar. Só os barcos interrompem a linha do horizonte.
Mar adentro, caminho pelo paredão até ao farolim de Felgueiras. Imagino a luz acesa lá no alto, ouço o roncar do farol, sinto o cheiro a maresia. Em dias de tempestade, deixo de o ver, represento o movimento das ondas. Por vezes, não distingo onde acaba o mar e começa o céu. Um mar tão azul como o céu em dias de sol aberto, tão cinzento como o céu em dias de nevoeiro ou tão verde com a cor das algas. Desenho as algas.
Espero pelo pôr do sol, ouço o grito das gaivotas, não me canso de desenhar aquele mar, da Foz. E imagino a cidade vista do lado do mar.
Sigo pela foz do Douro, rio acima, passo as pontes, desenho as margens até onde o casario sobe o morro, encontro a cidade antiga.
Desenho um Porto, inspirador e expressivo, o Porto dos poetas.
Uso a força do carvão, a transparência das aguarelas e da tinta da china, experimento a cor dos óleos.
Será sempre o meu Porto, a cidade onde nasci.
Sónia Teles e Silva, julho 2025
BIOGRAFIA
Francisco Badilla (Chile, 1974) é pintor, formado em Belas Artes no Chile e com estudos em Pintura na prestigiada “Art Students League” de Nova Iorque. A sua obra desenvolve-se dentro de uma linguagem figurativa, marcada por influências do impressionismo americano e por uma sensibilidade muito própria.
As suas pinturas habitam espaços interiores — físicos e emocionais — onde figuras humanas vivem o quotidiano sem pose nem artifício. Há nelas uma quietude melancólica, mas também uma luz de esperança: um desejo latente que se insinua através de janelas abertas, reflexos e atmosferas luminosas, como se a pintura fosse um portal para algo que ainda está por vir.
Trabalha principalmente com óleo sobre tela, usando uma pincelada expressiva e contida, onde o detalhe cede lugar à sugestão. O seu processo criativo combina tradição e contemporaneidade: recolhe imagens, compõe cenários digitalmente, e transforma essas ideias em pintura, fundindo técnica e intuição.
Vive no Porto, onde concluiu o Mestrado em Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Desenvolve o seu trabalho num atelier próprio, espaço onde também partilha o seu conhecimento, ensinando desenho e pintura.
Sónia Teles e Silva (Porto, 1963) licenciou-se pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e desenvolve a sua atividade profissional, no âmbito da sociedade SJGS Arquitectos, Lda. produzindo uma extensa lista de projetos que originaram obras públicas e privadas, objeto de publicação e com alguns prémios em concursos de Arquitetura.
A partir de 2012 intensifica a atividade de desenho, participando em várias exposições coletivas e individuais, com destaque para: exposição Porto com sentido, na Fundação Manuel António da Mota, no Porto, em 2017, organizada pela Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas; exposição individual Olhar pelo desenho – Lello e Clérigos, em 2019, na Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas, Porto; exposição individual Desenho nos Clérigos, em 2022, na Torre e Museu dos Clérigos, Porto e exposição Clérigos fora de portas, em 2022, no Museu Municipal de Paços de Ferreira.
Organiza workshops de desenho in loco.
Autora dos livros Desenho na Lello e Desenho nos Clérigos, com textos de Francisco Duarte Mangas, João Paulo Fernandes e Sónia Teles e Silva, fotografia de Vítor Cardoso e Manuela Graça Moura, respetivamente, e design editorial de Humberto Nelson e edição da Calendário de Letras.
Desenho no Palácio da Bolsa, com prefácio de Nuno Botelho e textos de Alexandre A. Tojal, João Paulo Fernandes e Sónia Teles e Silva, fotografia de Eduardo Perez Sanchez e design editorial de Leonor Secca, numa edição da Primeira Edição.
Desenvolve técnicas de preparação e secagem de Algas Marinhas para coleção e algário, tendo coordenado em coautoria a publicação do Guia Prático de Preparação de Algas Marinhas, da autoria de Américo Teles, edição póstuma do Museu Marítimo de Ílhavo e realiza workshops de construção de algários.
Dedica-se à criação de artefactos e acessórios com a marca MUSANGA.