31 de maio a 21 de junho de 2025
Inner Fields
David Pessegueiro
Exposição de pintura e instalação
Sala 1
Inauguração
16:00 – 31 de maio
Reinventar espaço, tempo, matéria
O título, quase arrogante na sua desmedida ambição, na distância entre a sua enunciação e a sua finalidade, desajustado porventura face ao que o motiva tem, no entanto, uma razão de ser que, espero, se explicite neste breve texto sobre a pintura de David Pessegueiro.
Olhemos, antes de mais, para este trabalho sobre madeira, tela, alumínio e cerâmica, nos canónicos formatos retangulares, quadrados e circulares, preenchidos com a matéria da pintura. Observemos o que nele se representa, através de propostas de cor delicadas e consonantes, mais poéticas do que declarativas, mais atentas a processos do que a objetos e que, sim, insinuam espaço, tempo e matéria. Difícil de descrever, ainda mais de narrar, é fascinante observar como reinventa o mundo a partir do seu interior.
Nestes corpos de pintura sopram fluxos, propagam-se ondas, correntes de energia, movimento, luz e explosões de brilho, manchas difusas formam-se entre vácuos e vórtices. Organizam-se neles sistemas estelares ou sistemas nervosos, teias e tramas tecidas por criaturas diferentes. Divisam-se céu e ruínas, espaço arquitetónico, universo sideral. É suposto remeterem para matéria animal, vegetal ou mineral? Serem pó de pedra, de pétalas desfeitas ou de estrelas? Nuvens, massas de água, estruturas de engenharia ou sistemas circulatórios? Sugerem um espaço cósmico ou celular, macro ou micro, o desmesuradamente grande e o infinitesimal. Induzem um tempo de configuração, entre caos e cosmos, em todo o caso, um devir.
Não será difícil perguntarmos o que nos sugere e lembra esta pintura, exatamente do mesmo modo que olhamos as nuvens ou a superfície desgastada de um muro e aí identificamos formas familiares.
Não tarda, estaremos em lugares nunca frequentados, florestas mágicas, arquiteturas assombradas, espaços iluminados, paisagens. Mas nada nos transmite segurança e em vez de marcas precisas, confrontamo-nos com ambientes indefinidos e vagos, com substâncias indeterminadas que nos conduzem do imanente ao transcendente.
No momento a seguir estaremos a relembrar o imaginário romântico, a melancolia e a obscuridade dos seus motivos visuais e literários, o seu simbolismo, o deslumbramento pelo mistério da natureza e pelo espiritual.
Este trabalho parece retomar a inquietação permanente sobre os sistemas que nos envolvem e a que pertencemos. Uma pesquisa sobre padrões, esquemas compositivos, geometrias subterrâneas que perpassam o natural, o humano e o artificial. Se regressa ao romantismo é porque, de forma mais profunda ou mais superficial, os seus temas nunca abandonaram a prática artística e sobrevivem em subculturas musicais, na ilustração de capas de discos, na moda, nas tatuagens, no graffiti e na arte de rua. E sendo David um frequentador das ruínas das cidades e das cicatrizes urbanas, é natural que transporte para uma técnica mais convencional e para o espaço da galeria, marcas dessa atmosfera e visões idealizadas nessa desolação tranquila. Visões que são menos nostalgia do que de potência vital, porque emergem como a natureza que tudo invade e reequilibra.
Laura Castro
Universidade Católica Portuguesa, Escola das Artes Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes
BIOGRAFIA
David Pessegueiro (2001, Porto) residente atual no Porto, viveu e estudou parte da sua vida em São João da Madeira. Licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes do Porto, encontra-se de momento a completar o mestrado na mesma área e instituição. Nutriu desde cedo a paixão pelas artes, pronunciando-se na música – intrínseca ao seu ato criativo -, na fotografia enquanto parte do seu quotidiano, bem como, no desenho e pintura, onde mais profundamente se expressa. Com um passado ligado à street art, a exploração do ambiente urbano reflete-se no interesse pela poética da transitoriedade e da ruína. Atualmente, explora dimensões ligadas ao espaço, corpo e natureza, numa procura por momentos de liminaridade, onde a figuração se dissolve.



