19 de Abril a 10 de maio de 2025
Filipe Rodrigues
Exposição do Programa Artistas Cooperadores
Sala 1
Inauguração
16:00 – 19 de abril 2025
Apresentação do livro “A Arte de Ser Boa Pessoa” de Vítor Pinto Basto
17:00 – 19 de abril 2025
As três palavras aqui reunidas criam uma sensação de estranheza.
Neste percurso de 30 anos, o silêncio, o ruído e a gravidade parecem ter hoje um duplo sentido.
As pinturas longe das circunstâncias de quando nasceram podem ser vistas com outros olhos, ancoradas em enigmas onde as tensões e os contrastes, os pesos e as levezas, o caos e as quietudes sugerem uma proposição especulativa de um itinerário artístico de 30 anos.
A exposição é composta por três partes: Silêncio – Primeiros anos; Ruído – Mudança e experimentação; Gravidade – A arte de Ser Boa Pessoa depois de Vítor Pinto Basto.
O período dos primeiros anos é marcado por desafios e descobertas ainda antes e no decorrer da licenciatura em Artes-Plásticas Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, as leituras, as viagens e tertúlias com artistas e escritores. Das influências iniciais, é Domingos Pinho que me leva a referências e aproximações pictóricas, aos signos, temas, luz e matéria representadas nas obras de António Tàpies e Miquel Barceló, assim como, às análises teóricas de Simón Marchad Fiz.
Seguem-se outras referências como Francis Picabia, Júlio Pomar e, por aí adiante, até Sigmar Polke, Marlene Dumas, Kitaj, David Salle, Neo Rauch, Luc Tuymans e Isabel Sabino, entre muitos outros, aos quais nunca fui indiferente nos seus modos de pensar pintura.
As estratégias premeditadas das linhas de produção e criação artísticas, com origem na herança da Pop Art, no Fotorrealismo, na Arte Concetual, no Minimalismo, Vídeo e na Instalação Artística dos finais dos anos 90, do séc. XX, tornaram-se demasiado comunicáveis e naquilo que eu tinha de me afastar. A natureza da minha prática artística individual, nos primeiros anos, procurou outra abordagem, quer no desenho, na gravura, na cerâmica e sobretudo na pintura.
Ao longo do tempo as obras iniciais, com seus temas, signos e símbolos sem hierarquização nas estruturas de composição possibilitavam a ausência de uma narrativa clara, entre a abstração figurativa e a figuração.
As mudanças e experimentação seriam inevitáveis perante os quinhentos anos de História, de saberes acumulados, processos, práticas e métodos da pintura. A História da Arte, a Estética Filosófica e a Crítica da Arte são fundamentais para uma exposição sumária sobre a realidade artística e a pintura que desenvolvo com contornos metafísicos, tematizada em apurar uma reflexão visual que está para além da aparência do real. Dito, noutro modo, desde a Crítica da Razão Pura de Kant, em 1790, para alguém que escreve sobre Arte ficou muito difícil escapar à grande tendência da reflexão estética, é extremamente difícil escapar aos critérios, ordenações, disposições e arranjos formulados pela tradição estética. Por outro lado, qualquer atitude anti-estética incorre na formulação de outra metodologia quer seja, dedutiva, indutiva ou mista.
Tenho na minha pintura, nas sobreposições, na vibração das superfícies, também a carga ontológica de todos os pensadores que me foram marcantes, reminiscências da palavra escrita desde os gregos como Aristóteles, passando por Kant, Lyotard, Hegel, Heidegger, Hartmann, Fernando Gil, Deleuze, Foucault, Foster, Groys, Peter Osborne, Mario Perniola ou, mesmo Hito Steyrel. Assim, a segunda década é composta com períodos de mudança, novas abordagens técnicas ou temas que se diversificam perante a multiplicidade de propostas de objetos artísticos de diferentes naturezas que mantêm características de um tempo transnarrativo e delimitado com a subjetividade do nosso contexto temporal.
Somos todos espectadores, nesta hiperrealidade, onde estamos a olhar para a arte de todos os tempos. Por isso, permanecemos intimamente relacionados com a mundialização plena que reconhece o grau do mais recente estágio da globalização, a web e a tecnologia da multimédia.
A mundialização transestética, com o seu realismo direto e os seus significados fundamentais, dentro do que é possível encontrar e distinguir, incluiu termos como a não localização e origem fidedigna da verdade, de signos, arquivos, mensagens e informação que circulam vinculados à web.
A descaraterização de naturezas artísticas; a desterritorialização; a perda de soberania; o virtual que supera a realidade comum e os novos modos temporais, espaciais e formas de colonização e censura colocam-nos ao serviço de diferentes temporalidades que pertence à ordem de uma transnarrativa.
Interrogar as condições reguladoras que orientam, administram ou subordinam estes conceitos e, delimitar as evidências da subjetividade do eu e da subjetividade coletiva tem origem na mais recente proposta do meu trabalho pictórico, a Gravidade – A arte de Ser Boa Pessoa depois de Vítor Pinto Basto.
A gravidade manifesta-se na matéria pictórica e a pintura torna-se mais densa e profunda no seu projeto, substancializou-se no tema e na representação da imagem. A realidade é uma pintura pós-concetual.
A análise do estado atual da arte deve clarificar a noção de pintura e envolve categorizações com pressuposições ideais, encadeamentos gnosiológicos e existenciais. O desafio do escritor Vítor Pinto Basto permitiu-me encontrar outra necessidade interna na substância, única e condição nominal da Pintura. É um regresso ao Gregos, aos primeiros princípios e primeiras causas de tradição Aristotélica, das rupturas de Descartes, da irredutível visão Kantiana e dos modos de subjetivação de Foucault, o axioma da pintura exige A arte de se ser boa pessoa na constituição dos temas, signos, estrutura de composição e na legitimação da obra artística.
Filipe Rodrigues
Porto, 27 março 2025
FILIPE ROGRIGUES (1978, Mafamude, Vila Nova de Gaia). Doutorado em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Mestre em Artes Visuais pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Licenciatura em Artes Plásticas – Pintura pela faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Desenvolve uma prática artística que explora a intersecção entre pintura e a transnarratividade.
A sua pesquisa e projetos artísticos enfatizam as dimensões subjetivas da representação pictórica, contribuindo para as discussões contemporâneas sobre a interpretação visual, arte como um meio arquivista e pós-conceptual para narrativas e preservação culturais.
Nos anos recentes, tem envolvido ativamente projetos curatoriais e na integração da arte contemporânea em ambientes educacionais, promovendo novas formas de envolvimento com o património artístico.
Foi Presidente da Associação Projeto Núcleo de Desenvolvimento Cultural, Membro Investigador no i2ADS – Instituto de Investigação em Arte. Realiza curadorias desde 2005 em Portugal e Espanha. Autor dos Projetos: Linha de Água – Bienal de Arte Contemporânea de Trás os Montes, 2022; Circular, 2022; Encaixe (2024) e Atrás da tela (2024), assim como, desenvolve investigação artística na área da Pintura. Professor Adjunto Convidado no Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Participou desde 1995 em mais de 400 Exposições Coletivas, Eventos e Bienais de Arte em Portugal, Espanha, França, Brasil, Grécia, Canadá, Estados Unidos da América e Japão.
Realizou 32 Exposições Individuais em Portugal e Espanha. Recebeu 28 distinções e prémios em Artes Plásticas.